Rainha do Céu e da Terra: Por que Coroamos a Nossa Senhora? [Gebirah]

Em maio, mês dedicado a Maria, uma das mais belas tradições da Igreja Católica ganha vida especial: a coroação de Nossa Senhora. Este gesto, aparentemente simples, carrega um profundo significado teológico e espiritual que atravessa séculos de devoção mariana. Mas você já se perguntou por que coroamos a imagem de Maria?

As Origens Históricas da Coroação Mariana

A tradição de coroar Nossa Senhora tem suas raízes no século XVI, quando o Papa Clemente VIII estabeleceu o ritual oficial de coroação de imagens marianas. No entanto, a prática de honrar Maria como Rainha remonta aos primeiros séculos do cristianismo, fundamentada na própria Sagrada Escritura.

O ritual oficial de coroação de imagens marianas, estabelecido pelo Papa Clemente VIII em 1597 através do documento "De coronatione imaginum", formalizou uma prática que já era comum em diversas comunidades católicas. Este documento estabeleceu diretrizes específicas para a cerimônia e determinou que o Capítulo Vaticano teria a autoridade para conceder permissão oficial para coroações solenes de imagens marianas (Acta Apostolicae Sedis, Vol. 43, 1951).

Antes mesmo desta formalização, existem registros históricos de coroações marianas desde o século V, especialmente após o Concílio de Éfeso (431 d.C.), que proclamou Maria como "Theotokos" (Mãe de Deus). O teólogo Luigi Gambero, em sua obra "Mary in the Middle Ages" (Ignatius Press, 2005), documenta como as representações artísticas de Maria coroada começaram a aparecer em mosaicos e afrescos das antigas basílicas romanas a partir do século VI.

A tradição patrística também oferece rico testemunho desta devoção. São João Damasceno (676-749), em sua obra "De Fide Orthodoxa", já se referia a Maria como "Regina omnium" (Rainha de todos), enquanto São Bernardo de Claraval (1090-1153) desenvolveu extensivamente a teologia da realeza mariana em seus sermões (Obras Completas de São Bernardo, BAC, 1993).

O historiador eclesiástico Eusébio Guerreiro, em "História das Devoções Marianas" (Vozes, 2019), destaca que a primeira coroação papal oficialmente registrada ocorreu em 1631, quando o Papa Urbano VIII coroou a imagem de Nossa Senhora da Febbre na antiga sacristia da Basílica de São Pedro.

O Fundamento Bíblico

Na tradição do Antigo Testamento, a mãe do rei ocupava uma posição de honra especial, sendo conhecida como "Rainha-Mãe" (Gebirah). Como Jesus é o Rei dos reis, Maria, sua mãe, recebe naturalmente o título de Rainha. Esta realeza é confirmada no Apocalipse, onde João descreve "uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça" (Ap 12,1).

Este título, derivado das palavras hebraicas "gevir" (senhora) e "em" (mãe), era conferido à mãe do rei reinante, conferindo-lhe não apenas status social, mas também significativa influência política e autoridade moral.

Exemplos históricos desta tradição podem ser encontrados em várias passagens bíblicas. Betsabá, mãe de Salomão, é retratada sentada à direita do trono real (1 Rs 2,19), uma posição de grande honra. Da mesma forma, Maaca, mãe do rei Asa (1 Rs 15,13), e Naamá, mãe de Roboão (1 Rs 14,21), são mencionadas especificamente com este título de distinção.

Esta compreensão da Gebirah no Antigo Testamento estabelece um paralelo teológico profundo com Maria. Como mãe de Jesus Cristo, o Rei Messiânico prometido e Senhor Universal, Maria assume naturalmente a posição de Rainha-Mãe na nova e eterna aliança. Sua realeza, portanto, não é meramente honorífica, mas fundamenta-se na própria estrutura da história da salvação.

A visão apocalíptica de São João (Ap 12,1) reforça esta realidade teológica com uma rica simbologia: a mulher "vestida de sol" representa Maria em sua glória celestial; a "lua sob seus pés" simboliza seu domínio sobre as realidades temporais; e a "coroa de doze estrelas" evoca tanto as doze tribos de Israel quanto os doze apóstolos, unindo assim Antiga e Nova Aliança em sua pessoa.

O Significado Teológico

Esta elevação especial de Maria, reconhecida pelo Concílio Vaticano II, tem raízes profundas na teologia católica. Sua cooperação única no plano salvífico de Deus se manifestou primeiramente em seu "fiat" - seu sim incondicional à vontade divina na Anunciação. Este ato de obediência perfeita iniciou o processo de redenção da humanidade e estabeleceu Maria como cooperadora singular na obra salvífica de Cristo.

A Lumen Gentium desenvolve esta doutrina explicando que Maria não é apenas uma figura passiva no plano divino, mas uma colaboradora ativa e livre. Sua coroação como Rainha do universo é a culminação de uma vida inteira de fidelidade e participação nos mistérios de Cristo - desde a Encarnação até a Cruz, e da Ressurreição até Pentecostes.

O documento conciliar enfatiza ainda que a realeza de Maria está intrinsecamente ligada à sua maternidade divina e à sua Assunção. Por ter sido preservada do pecado original e ter participado tão intimamente da vida, morte e ressurreição de seu Filho, ela foi elevada à glória celestial em corpo e alma. Esta glorificação completa - corporal e espiritual - a configura de maneira única a Cristo Ressuscitado e a estabelece como modelo perfeito da Igreja glorificada.

Assim, quando a Igreja coroa Maria, reconhece não apenas sua dignidade pessoal, mas também sua função maternal contínua na economia da graça. Como Rainha, ela continua sua missão de interceder pelos fiéis e conduzi-los a seu Filho, exercendo sua realeza não através do poder, mas do serviço amoroso à humanidade.

Uma Tradição Viva

Durante o mês de maio, paróquias em todo o mundo celebram cerimônias de coroação. Uma criança, geralmente, é escolhida para colocar a coroa na imagem de Nossa Senhora, simbolizando a pureza e simplicidade com que devemos nos aproximar de Maria. Este momento solene é acompanhado de orações, cânticos e flores, expressando o amor filial do povo de Deus por sua Mãe celestial.

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O Que Isso Significa para Nós Hoje?

Coroar Nossa Senhora nos lembra que, assim como Maria foi exaltada por sua humildade e fidelidade, somos chamados a seguir seu exemplo. Sua coroa não é símbolo de poder terreno, mas de virtude e santidade. Como ensinou São João Paulo II: "A realeza de Maria é totalmente ordenada à santidade dos filhos de Deus."

Como Participar Desta Tradição

Além das cerimônias paroquiais, podemos honrar Maria como Rainha em nossa vida diária através de:

  • Recitação do Santo Rosário, meditando especialmente os mistérios gloriosos
  • Participação nas celebrações marianas de nossa comunidade
  • Imitação das virtudes de Maria em nossa vida cotidiana
  • Consagração pessoal a Nossa Senhora

A coroação de Nossa Senhora é mais que uma tradição: é uma profissão de fé e amor. Ao coroarmos Maria, reconhecemos sua singular dignidade e nos colocamos sob sua maternal proteção. Como filhos devotos, renovamos nossa confiança naquela que, sendo Rainha, nunca deixa de ser Mãe.

Como disse o Papa Francisco: 

"Maria é nossa Mãe, mas também podemos dizer que é nossa representante, nossa irmã, nossa primeira companheira no caminho, aquela que já alcançou a perfeição que nós somos chamados a atingir."

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